Com ajuda da sociedade, Erundina quita multa imposta pela Justiça

A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) anunciou no dia 5/1 ter conseguido os R$ 352 mil necessários para pagar uma dívida com a Justiça, resultado de um processo aberto quando ainda era prefeita de São Paulo. Sem recursos para quitar o débito, a parlamentar recebeu apoio de diversos setores da sociedade e dos movimentos sociais para a arrecadação de dinheiro.

Segundo Erundina, grande parte das doações partiu da população de São Paulo e outras cidades brasileiras, com depósitos que variaram de R$ 2 a R$ 20 mil na conta aberta para ajudar a deputada. No total, foram arrecadados cerca R$ 7 mil a mais do que o  necessário — diferença que será doada a uma instituição de caridade.

Erundina já autorizou a transferência do dinheiro para a respectiva conta da Justiça, mas seus bens só serão desbloqueados depois que o Judiciário voltar do recesso, em fevereiro. Foram interditados o apartamento em que ela vive em São Paulo, cujo valor é de cerca de R$ 100 mil, e dois carros. Além disso, desde abril deste ano, 10% da remuneração da parlamentar passou a ser recolhida automaticamente pela Justiça.

A parlamentar foi condenada recentemente pelo fato de, em 1989, nos primeiros meses de seu mandato como prefeita de São Paulo pelo PT, ter apoiado a greve geral comandada pela CUT e pela já extinta CGT, não ter liberado a circulação de ônibus da então CMTC (Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos) e ter explicado o posicionamento da prefeitura através de nota paga em jornal de grande circulação na capital. Um cidadão comum entrou com ação contra a prefeita alegando que ela teria usado dinheiro público para pagar uma publicação de caráter pessoal.

Em rápida entrevista ao Portal CTB, Erundina agradeceu a todos os apoios recebidos e disse esperar que todo esse imbróglio sirva de exemplo para o fortalecimento da democracia brasileira.

Portal CTB:
Deputada, como a senhora viu o movimento surgido em sua solidariedade e o sucesso final dessa empreitada?

Luiza Erundina: Foi um movimento político inusitado na historia brasileira, porque em geral as pessoas não acreditam que é possível fazer política com ética e absoluto compromisso com os trabalhadores, com os setores populares. E isso ficou evidenciado agora, já que em menos de dois meses foi possível arrecadar um montante fantástico. A maioria das doações partiu de anônimos, de pessoas que depositavam R$ 2, R$ 5, R$ 10 — algo que veio do país inteiro. A sociedade mostrou compreender que para um governo democrático e popular fazia todo sentido tomar aquela posição.

Portal CTB:
Passados 20 anos daquele episódio, que lições ficaram daquela tomada de posição em prol dos trabalhadores, justamente pela prefeita da maior cidade do Brasil?

Luiza Erundina:
Isso tudo fortalece a importância de eleger governos de caráter popular, compromissados com os negros, com os assalariados, com as mulheres — governos que tenham lado, definição, pois raramente a gente vê isso.

Aquela greve geral foi uma vitória dos trabalhadores, ocorrida logo no começo do governo. Claro que a elite paulistana não ficou satisfeita de ser governada por uma petista, socialista, mulher e nordestina. Esse é o significado político importante. Isso sinaliza para as novas gerações de que há políticos e políticos. Isso contribui para politizar a juventude e despertar nela o interesse pela política, de modo a garantir e ampliar as conquistas e avanços que obtivemos. A reação unânime em todo o país mostra que estávamos certos naquela ocasião.

Fernando Damasceno, do Portal CTB, com agências