Vendo-me – Autor: André Braga

Percorro as ruas paralelas
Do centro, procurando emprego
E me deparo com as donzelas
Que vendem o seu apego
 
Serei eu assim como elas?
Mesma história com outro enredo
Ou somos apenas sociais mazelas
Estigmas, frutos do desemprego?
 
De porta em porta, batendo
Sigo adiante, firme e atento
Vendendo minha força, meu corpo
Meu pensamento, meu sonho, meu tempo
 
Para alguém que há tempos
Desde os tempos dos campos
Senhores de engenho, tiranos
Hoje capitalistas vorazes, insanos
Para mim, sempre com algum plano
 
Vendo-me assim sinto-me coitado
Sonhador bobo num mundo pré-programado
Sem opções, onde o certo é o errado
E tudo mais pode ser comprado
 
Essa indiferença humana me consome
E antes que piore e eu morra de fome
Coloco minha máscara, invento codinome
E carrego uma placa ao peito: vendo-me
 
Quem quer me comprar?

André Braga é autor do livro Poemas Intranquilos (htpp://poemaserrados.blogspot.com ).